COSMOPOLÍTICA DE MUNDOS VEGETAIS E ANIMAIS
COSMOPOLÍTICA DE MUNDOS VEGETAIS E ANIMAIS
Coletas de fim de feira
Teresa Siewerdt
Depois do fim da feira, milhares de toneladas de frutas, legumes e verduras que poderiam alimentar pessoas ou se transformar em adubo para plantações ou jardins, vão parar no lixo. Em São Paulo, este número chega a 33 mil toneladas por ano. Tornar-se uma catadora ou catador desses resíduos, que não foram comprados ou aproveitados, além de suprir uma necessidade por alimentos e representar uma economia nos gastos que envolvem a manutenção da subsistência, pode adquirir um sentido mais amplo e também político. Ao catar essas sobras, nesse caso partes diversas de um vegetal, resgatamos algo cujo destino era o descarte e, ao fazermos isso, recuperamos uma energia preciosa, que está presente em tudo aquilo que foi necessário para que essa planta se desenvolvesse e chegasse até nossas casas em forma de mercadoria/alimento: da energia solar e dos nutrientes do solo que as plantas fixam em seus corpos, do trabalho humano envolvido no plantio, manutenção, colheita, transporte e venda desses vegetais, dos recursos hídricos, eletricidade, impostos, papelada impressa, combustível, e tantas outras coisas a serem consideradas que não caberiam em poucas linhas. Além dessa energia, ao resgatar o que era resto, ou sobra, parece que também nos resgatamos para uma outra lógica de vida, onde nosso tempo e nossas ações tomam outro caminho em relação à da produtividade e do consumo do modelo econômico capitalista. Não à toa que em países como a Alemanha a prática de catar sobras de alimentos de supermercados é considerada crime, pois se entende que essa prática desafia concepções sociais, como a noção de propriedade privada ou a de cidadão/trabalhador que consome e faz “girar” a economia.