COSMOPOLÍTICA DE MUNDOS VEGETAIS E ANIMAIS
COSMOPOLÍTICA DE MUNDOS VEGETAIS E ANIMAIS
“É simplesmente por existirem que as plantas modificam globalmente o mundo, sem sequer se mexerem, sem nem mesmo começarem a agir. Ser significa para elas fazer mundo, e, inversamente, construir (nosso) mundo, fazer mundo não passa de um sinônimo do ser”.
(Emanuele Coccia)
[...] um acontecimento me vem à mente. Quando ainda era estudante de iniciação científica em Santa Maria e comecei meus trabalhos com os cactos, realizei coletas dessas plantas. Dentre elas, um filocládio – uma “raquete”, segmentos do caule de alguns tipos de cactos – de palma (Opuntia sp) acabou ficando esquecido em um canto do laboratório de taxonomia vegetal durante 2 meses. Ele ficou lá, sozinho, fora do solo e sem contato com água. Quando o encontrei (ou melhor dizendo, quando me lembrei dele), ele não estava morrendo. Pelo contrário, estava crescendo. Novos brotos surgiam a partir do caule mais velho e se espalhavam pelo pequeno canto do laboratório em que se encontravam, como se tentassem escapar do pequeno ponto que lhes fora reservado. Estavam, de fato, fazendo isso e qualquer outra planta o faria. Mas o que quero chamar atenção é ao fato de que a maior parte das outras plantas não teriam durado uma semana ali, sem água, sem terra e no ápice do verão santa-mariense, com seus mais de 35ºC. Não, outras plantas não aguentariam. Mas os cactos sim. Eles tomaram a plasticidade e capacidade de se adaptar a problemas que as plantas possuem, como demonstrado por diversos autores como Mancuso e Coccia, e as elevaram ao extremo. Por fim, acabei por levar o cacto para casa, e ele me acompanha até os dias de hoje.
A (por vezes lenta) investida da natureza na guerra no antropoceno
“As ideias são como cactos que, mesmo destroçados e enterrados, voltam a brotar com aparência de coisa nova e que machucam quem os toma de forma imprópria”
Dilson Vargas Peixoto
Algumas plantas do meu cotidiano:
Plantas nascendo na calçada (Recife) e Planta crescendo de um pedaço de inhame esquecido encima da geladeira
🌿 "Plants do not occupy anything even if they cover vast extensions of the planet's surface; the generous compensation for their ontological violence (if any) is the gift of pure air, of a more fertile soil, of life itself they bestow upon other creatures"
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🌱 "As plantas não ocupam nada, mesmo que cubram vastas extensões da superfície do planeta; a generosa compensação por sua violência ontológica (se houver) é o presente do ar puro, de um solo mais fértil, da própria vida que eles concedem a outras criaturas"
-Michael Marder
Runa:
Human, but not only
Marisol de la Cadena
Video no YouTube: https://youtu.be/4hzNhIErr5A
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