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Vida e morte...

POR SHAILA MAXIMO

Estranho como as plantas têm essa capacidade de nos fazer pensar em vida e morte de uma forma tão diferente daquela que estamos acostumados...

Em uma das minhas caminhadas vespertinas rápidas, para aproveitar o sono curto do bebê que ficou em casa com o pai, me deparei com uma árvore que caiu no meio do caminho do bosque. A princípio, confesso que me veio aquele pensamento "por que ninguém tirou essa árvore do meio do caminho?". Em seguida, já me senti envergonhada por essa injúria rápida mas certeira que a natureza foi obrigada a testemunhar. Percebi que, na verdade, a intrusa era eu mesma no meio daquele pequeno pedaço de vegetação que sobrou numa cidade grande como Guarulhos! A morte daquela árvore, provavelmente muito antiga, talvez tenha levado consigo um coletivo de indivíduos do mundo vegetal, mas, por outro lado, estava propiciando novas ou melhores condições para muitas outras formas de vida daquele pequeno pedaço de mata. Cada parte de sua estrutura, que se ramificava em outras estruturas (raízes, folhas, galhos, tronco), era conectada com a natureza como um todo, com elementos vivos e não vivos. Com sua morte, aquele conjunto foi se desfazendo, porém, dando origem a novas estruturas e novos conjuntos de seres vivos. Era a morte como parte de um ciclo natural que produz muito mais vida. Logo me veio a ideia de Donna Haraway (2016) sobre vivermos uns para os outros, do "viver com", "morrer com" e do "devir com" essa coletividade de seres presentes no nosso mundo. Enfim, a morte passa a ser um momento de transformação e de renascimento. Eu sei, difícil de entender para nós, humanos, por causa desse "dom" que nos foi dado da consciência desse processo. Sei que é muito estranho pensar em viver como uma planta (pelo menos para mim), mas talvez me basear em "Resistir como uma planta", como propõe Michael Marder (2012), tentando guiar a vida mais no sentido de ser o que somos, contemplando a vida, a natureza e tudo que ela pode nos proporcionar. A ideia é tentar ser um pouquinho melhor para esse mundo e para todos as formas de vida que estão ou vierem a estar ao meu redor.

Reconheço que ainda é um pensamento muito antropocêntrico, mas estou tentando melhorar!

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Título 5
Eu quis colocar aqui uma foto da minha nova e falecida amiga de corpo inteiro para registrar aqui a extensão que ocupou durante sua vida e agora a extensão de vida que ela vai poder propiciar (se a mantiverem nesse lugar, que acredito ser onde deveria ficar).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COCCIA, E. A Vida das Plantas. Uma Metafísica da Mistura. Florianópolis, Cultura & Barbárie, 2016. 

HARAWAY, Donna. Staying with the Trouble: Making Kin in the Chthulhucene. Durham and London: Duke University Press, 2016. 

MARDER, M. Resist like a plant! On the Vegetal Life of Political Movements. Peace Studies Journal, Vol. 5, Issue 1, January 2012

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