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FONTE: Shaila Maximo

Domesticação ou animalização


 

Por Shaila Maximo


 

Costumo dizer que bicho e criança é tudo igual! Olhando a foto que eu mesma tirei, só consigo reforçar esse meu pensamento que admito ser bem superficial. E será que essa semelhança está só na criança com o animal? Será que existe essa semelhança mesmo e ela é natural?

Se essa semelhança não for natural, será que nós estamos forçando os animais ao nosso modo de domesticação? Ou, como reflete Juliana Fausto (2017), talvez eles estejam, de certa forma, nos animalizando?

Gosto de pensar na ideia de Fausto de que esse processo é uma troca. Nós aprendemos com os animais e os animais conosco. Por consequência, eles começam a ter algumas características nossas, mas nós também imitamos algo deles. 

Nesse processo de troca, não fica tão difícil para muitos de nós lembrar dos nossos animais de estimação. Mas a vida não se limita só aos animais e às plantas que temos dentro de casa. Já dizia a introdução de Arquivo X, "a verdade está lá fora" (também). Está dentro e fora das nossas casas e do nosso microcosmo. Os animais em extinção, ou aqueles que são cobaias de experiências científicas,  ou ainda aqueles queimados na Amazônia e no Pantanal pelas "queimadas naturais" também são parte de uma realidade que não pode ser negada, e deveriam, assim como nós, ter seus direitos defendidos. Sua sobrevivência e seus direitos ficam à  mercê das necessidades do ser humano. Como dissertou De la Cadena e Medina (2020), quando nos convém, o gado pode ser res ou ejemplar, ou seja, usamos o animal para comer ou para ganhar dinheiro, ou matamos se não nos servir mais, não havendo qualquer preocupação com a vida dele em si. Estão sempre disponíveis para nos servir e, se não nos servem ou se não os conhecemos, são invisíveis e podem ser mortos sem qualquer preocupação ou remorso da parte humana. 

Na nossa tradição ocidental, não vemos a morte de plantas, animais e até mesmo de pessoas, pois essas mortes se tornam todas encobertas por processos de manutenção do capitalismo. Assim, as conexões entre vida e morte se perdem. 

Essa distância que nos impusemos à verdade que está "lá fora" ou a esse mundo que não aparece para nós daqui da metrópole e da face, em certo ponto, privilegiada do capitalismo facilita ainda mais o processo de extinção das várias espécies que vem acontecendo de forma acelerada pela ação do ser humano. 

É necessário que, de alguma forma, busquemos uma reaproximação com a natureza e que a troca de experiências entre animais e humanos não termine só em nossos pets. Precisamos consolidar experiências, leis e ações que garantam o direito à vida desses outros seres, ou, pelo menos, a uma forma mais digna e justa de morte, enquanto ainda não conseguimos, como diz Fausto, aprender a morrer.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIRD ROSE, D. VAN DOOREN, T., CHRULEW, Wolfe, C. (Eds) Extinction Studies: Stories of Time, Death, and Generations. Columbia University Press, 2017. 

DE LA CADENA, M. MEDINA, S. M. In Colombia some cows have raza, others also have breed: Maintaining the presence of the translation offers analytical possibilities. The Sociological Review Monographs 2020, Vol. 68(2) 369–384

FAUSTO, Juliana A. Cosmopolítica dos Animais. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2017. 

TSING, Anne. Viver Nas Ruinas. Brasilia: IEB Multi Folhas, 2019. 

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